domingo, 14 de fevereiro de 2010

ESTA VIDA QUE NÃO VIVI

.
.
.
.
(Imagem NET)

.

.

Será que na vida não vive
Quem na vida já viveu?
Ou será que terá vida
Quem nesta vida sofreu?
Eu que morri e que vivo
Dentro do mundo que passou:
Nos versos que não morrerão,
Após rasgar a vida,
Irão lembrar quem chorou
E esta vida não viveu.

.
.
(Rogério Martins Simões)

.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

METO-ME PARA DENTRO

.
.
.
(imagem retirada da NET)



Meto-me para dentro, e fecho a janela.

Trazem o candeeiro e dão as boas noites,

E a minha voz contente dá as boas noites.

Oxalá a minha vida seja sempre isto:

O dia cheio de sol, ou suave de chuva,

Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,

A tarde suave e os ranchos que passam


Fitados com interesse da janela,

O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,

E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,

Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,

Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.

E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.





(Alberto Caeiro)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O MEU GATO RON-RON

.





O ronron do gatinho

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor eléctrico.

É um motor afectivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ronron tão doce
era causa de alergia
p’ra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.


(Poema de Ferreira Gullar)
.
.
.